Sonhar… Iniciar… Implementar…

.Sonhei um dia de um mundo diferente. Um mundo utópico, romantizado, genuíno…

Iniciei um dia um mundo diferente. Um mundo só meu, livre, independente…

Implementei um dia um mundo diferente. Um mundo de todos, ancestral, tecnológico…

Hoje acordo, abro a porta e sinto-me feliz. Olho para a natureza, sinto o seu cheiro, embriago-me no seu esplendor.

Com o sol, abro os braços, com o frio, aconchego o casaco, o café acabado de fazer, sento-me na beira do degrau, observando…

Muito duro o primeiro ano para tornar o sonho realidade. Sozinha, bati a todas as portas, pedi apoio a quem sabia, acabei arregaçando as mangas e largar o mundo que não me entendia.

Numa sociedade onde a mulher se resigna a trabalhos “menores”, ou assim “deixado” pelo consciente colectivo masculino & empresarial onde vivemos, muitas vezes as duas perguntas finais eram sempre: quem é O “Teu” sócio & quem te “financia”. Esta última ainda aceitável e lógica, se fosse: COMO vais financiar o projecto….

Ao fim de um ano, desisti das pessoas e das instituições, desisti da credibilidade e da burocracia, desisti de convencer para inovar.

Um dia acordei e pensei: Francisca um bocadinho todos os dias. Fazia-me lembrar as entrevistas que fiz de emprego, em que no fim me respondiam sempre que preferiam alguém “mais anímico”, e claro, mais novo… Já desabituada a trabalhos físicos, os meus tempos na construção já idos longínquos, lá me meti com pá, enxada e muito boa vontade nas mãos.

O que seria o complemento do projecto principal, tornou-se o meu ex-libris, redesenhando por completo todo o espaço: a minha Agrofloresta Comestível. Foram meses estudando, lendo, aprendendo… e voltar a desenhar espaços e projectos, numa área, em que praticamente nada sabia. Consorciar plantas, interagir com animais, que loucura tão doce.

Aprendi meteorologia, geologia, veterinária, canalização… aprendi agricultura, permacultura, química, biologia… aprendi marketing, software, robótica, inteligência artificial…. aprendi tanto sobre sustentabilidade, inovação, investigação… aprendi acima de tudo de que: não se faz para ontem, mas sim para amanhã! Esta foi a lição mais dura que tive de aprender.

Habituada a trabalhar na indústria, em que tudo se faz para ontem e para agora, trabalhar nesta área mudou o meu paradigma, difícil sim de mudar ou alterar, especialmente quando nem sabemos que o temos. Simplesmente porque já faz parte de quem somos, culturalmente, profissionalmente, educacionalmente…

A primeira mudança foi tratar dos animais, tem de ser ao ritmo deles, não há volta a dar; A seguir foi a limpeza do terreno, a acumulação de anos de abandono, pousio, aberto a despejos de várias ordens; Depois a plantação, à mercê das condições climáticas, muito calor, seca, poços que secaram;

Todos estes desafios, dias com vontade de desistir, dias desmotivada com as notícias, dias estupefacta com a sociedade, foram o alento da minha determinação.

Já quase sem fundos, havia, no entanto, um sentimento de tranquilidade e paz de que cumpria a missão da Noctua Villam: TORNAR SUSTENTÁVEL UMA CIDADE, a minha cidade… sem fundos ou empréstimos.

Vai levar alguns anos a maturar, a mudar consciências, a mudar comportamentos… a ter o necessário no espaço, para se reproduzir mais réplicas similares, em pontos chaves do concelho para finalmente se dizer: somos independentes & sustentáveis a nível alimentar, a nível da saúde, a nível tecnológico & a nível energético.

Conto a cada 6 meses ter uma nova inovação, uma nova valência, uma nova evolução.

Convido todos os que quiserem fazer parte deste projecto a participar, colher, sugerir, quer sobre os nossos produtos (fruta, vegetais, legumes e carnes), quer no trabalho em desenvolvimento, quer nos eventos.

Mesmo tendo começado sozinha, acredito que a minha “tribo” esteja por aí algures…

Não quero terminar sem deixar um agradecimento público à Lara e Carlos Basílio (Jr) pela dedicação e apoio tanto nos dias mais duros, como nos dias mais desmotivantes e críticos! Um bem-haja ao vosso carinho e amizade!